Há quase um mês que o
Cine-Teatro Louletano estava esgotado para assistir ao regresso de Nilton a
terras algarvias e o humorista não defraudou as expetativas, levando ao delírio
todos os presentes. O fazedor de conteúdos bem-dispostos continua a ser um dos
mais reconhecidos comediantes da atualidade, seja através dos programas de
televisão ou de rádio a que dá rosto e voz, dos livros que escreve ou dos
múltiplos espetáculos que realiza de norte a sul do país, e confirmou mais uma
vez esse estatuto no dia 11 de junho, em Loulé.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
O Nilton é daqueles humoristas a cujos espetáculos não
convém chegar atrasado, por causa das piadas que se perde e porque esses
«infelizes» espetadores de imediato se tornam alvo da sátira deste beirão que
durante muitos anos foi DJ na Praia da Rocha, antes do fenómeno da stand-up
comedy se ter instalado em Portugal. Por isso, não esconde o carinho especial
que sente pelo Algarve e pelas suas gentes, do mesmo modo que não perde uma
pitada do que se passa ao seu redor, no quotidiano, ideias para material novo
que, de imediato, são memorizadas no telemóvel e, à noite, ganham mais
consistência no papel.
Assim aconteceu, por exemplo, com os participantes do
Campeonato Nacional de BTT - Maratonas que se realizou em Loulé, no dia 11 de
junho, estando a meta instalada em frente à Câmara Municipal de Loulé, a poucos
metros do Cine-Teatro Louletano, onde Nilton ia atuar nessa tarde. “Se não
olharmos para as bicicletas, aquilo é um monte de homens de calção justo de
licra a andar na rua e todos bastante abonados. Parece um casting para filmes
porno”, compara, com um sorriso, numa conversa antes do início de mais um espetáculo
com as suas dissertações do dia-a-dia. “São coisas que vejo e que fico a pensar
nelas, mas também inclui alguns apontamentos do «Alcides», uma personagem que
já testei este ano no Festival Sol Rir, em Albufeira. Mas é um conceito em que
fico muito preso a um texto e eu gosto imenso de falar com a plateia, de
interagir com as pessoas”, refere.
Na noite anterior, Nilton tinha atuado no Casino da Póvoa do
Varzim, no extremo oposto do país, para um público diferente daquele que teria
pela frente em Loulé, o que faz com que os espetáculos vão fluindo ao sabor das
conversas que mantém com as pessoas. Por isso, nunca se sabe muito bem o que se
vai encontrar. “É um espetáculo com uma orgânica viva, em constante mutação, e
é isso que me dá mais gozo. Não sou grande fã da peça de teatro fechada, em que
dizemos o texto que trouxemos escrito de casa e está feito. Gosto de trazer a
plateia para o palco”, afirma, embora considere que deixou de haver grandes
diferenças entre os públicos que assistem aos espetáculos consoante o local
onde eles têm lugar. “Quem vai ver stand-up comedy, por exemplo, a um casino,
não é necessariamente o cliente típico do casino. Vão as pessoas que gostam do
teu trabalho e que, à partida, estão mais recetivos às tuas piadas. O humor é uma
frequência e o público já sabe que o Nilton está virado para ali”.
Nilton avisa, contudo, que o reconhecimento público apenas
leva as pessoas às salas de espetáculo, depois disso, nada está garantido.
“Temos que ter piada na mesma e trabalhar imenso para que isso aconteça, caso
contrário, o reconhecimento público, o estatuto, desaparecem num instante. Isto
é um pouco como nos meus tempos de DJ em que precisava manter a pista cheia e,
para isso, tinha que escolher músicas que as pessoas gostassem de dançar. Se
vejo que um tema não está a ter aceitação do público, que não estão a gostar,
passo à frente”, indica, enquanto aproveitava para lanchar após algumas
centenas de quilómetros de viagem.